quinta-feira, 29 de abril de 2010

Reinventando e atualizando os finais felizes dos contos de fadas.

Quando era menina e tive o primeiro contato com os livros, lembro-me do meu avô dando a coleção de todos os disquinhos (o jurássico vinil) das histórias da Disney, tenho eles até hoje na minha estante. Ainda pequena nunca me conformava com a frase final dos famosos contos de fadas das princesas da Disney; “e viveram felizes para sempre...” Como assim, felizes para sempre?! O que aconteceu depois?! Nenhum conflito?! Nenhuma tristeza?! Existe um final feliz eterno?!

Lendo esta semana a revista Marie Claire, a reportagem de Ludmila Vilar com as fotos da canadense Dina Goldstein lançou uma nova luz sobre o assunto.


Era Uma Vez...


Lindas princesas que vieram para o século 21. Encontraram a fotógrafa Dina Goldstein, que deu a elas destinos bem diferentes daqueles que estão nos livros.

Por Ludmila Vilar.

Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve e a Pequena Sereia encontraram um lindo príncipe e um castelo dos sonhos para morar num reino distante – e foram felizes para sempre. Pelo menos é o que está lá escrito nas histórias infantis. Intrigada com o que seria um desfecho mais contemporâneo para esses contos, a fotógrafa canadense Dina Goldstein resolver trazer as princesas para os dias de hoje e criou um outro destino para elas, com imagens bem menos cor-de-rosa do que aquelas que habitam o imaginário infantil. O resultado está na série Fallen Princesses (do inglês, Princesas Arruinadas), exposta no fim do ano passado na galeria Buschlen Mowatt em Vancouver, no Canadá, e agora nas páginas de Marie Claire.


Mais do que questionar o tradicional jargão “felizes para sempre”, Dina refletiu nesse trabalho um período difícil da sua própria vida. No ano passado, ela enfrentou problemas de fertilidade para conseguir a segunda gravidez, aos 38 anos, e acompanhava o sofrimento da mãe que lutava contra um câncer de mama. Nessa mesma época, sua filha de 4 anos estava encantada com os filmes da Disney e adorava se fantasiar de princesa – típico da fase. “Eu via os filmes e, com esses dois problemas acontecendo ao mesmo tempo, comecei a imaginar como as princesas lidariam com os complexos desafios da vida real, como doenças, vícios ou questões ligadas à autoimagem”, diz. Também incomodava o fato de os desenhos da Disney terem sempre um enredo com um começo triste, uma vilã dominadora e um previsível final feliz. “Não importa qual seja o início da história, o príncipe chega para salvar a linda garota e transformá-la em princesa”, afirma. Ela inventou então cenários contemporâneos para as personagens.


Em Fallen Princesses, a doce Branca de Neve tem agora vários filhos e um marido ausente, mais vidrado na cervejinha e nos esportes da TV do que na própria família. Cinderela virou alcoólatra, o endereço da Pequena Sereia é um aquário, Rapunzel esta perdendo os cabelos na quimioterapia e a Bela Adormecida foi abandonada num asilo. “As fotos de Dina brincam com coisas sérias, que tiram o chão de nossos castelos mal-construídos. É como se nos lembrassem que temos que nos manter atentas para reinventamos nossos reinados, pois não há final feliz predestinado”, afirma a educadora, psicanalista infantil e estudiosa dos contos de fadas Loraine Schuch, de Porto Alegre. São imagens fortes, provocadoras, ao mesmo tempo, engraçadas, que nos fazem perguntar: afinal, o que sobrou da fantasia dos contos de fadas na vida moderna? “Hoje, nossos momentos de sonhos se resumem a datas como casamento, festas de aniversário, dia das mães. O problema é que elas duram pouco e a vida logo volta ao normal”, diz Dina.


Os contos de fadas são um elemento poderoso da cultura porque trazem informações sobre nós mesmas. Lá estão espalhados fragmentos da realidade, histórias que contêm dramas e personagens com correspondente no nosso cotidiano. “Há rainhas e princesas por toda a parte. Elas aparecem nas figuras de várias mulheres”, diz a psicanalista Loraine. Ela se refere ao nosso lado feminino mais edificante: aquele que, como nas brincadeiras, quer que tudo dê certo, e não poupa esforços para isso. Existem também os príncipes da vida real que, no dias de hoje, precisam tanto das mocinhas para se sentir nobres quanto elas deles para se sentirem princesas. Há ainda as versões modernas de madrastas – vilãs que, além do câncer, dos casamentos fracassados e de outros dramas retratados por Dina, aparecem na pele de figuras femininas autoritárias e intransigentes, como, por exemplo, a personagem central de O Diabo Veste Prada. A vida real tem também seus finais felizes, Dina Goldstein teve o direito ao seu, quando há nove meses deu à luz sua segunda filha.


Branca de Neve No conto de fadas ela desperta do sono da maçã envenenada direto para os braços do príncipe, com quem vive feliz para sempre. Nas lentes de Dina, a realidade é dura: ausente e entediado, o príncipe deixa todas as tarefas da casa para a princesa.




A Bela Adormecida Enfeitiçada para dormir por cem anos, a princesa só poderá ser salva se receber o beijo do um príncipe. O problema é que ele nunca chega. Alheia a tudo que se passou, a Bela Adormecida está em sono profundo até hoje num asilo, com a cara congelada no tempo.






Chapeuzinho Vermelho No conto ela se dá mal por desobedecer a mãe. Ao atravessar a floresta, Chapeuzinho pega o caminho mais curto – e perigoso – e ainda conversa com estranhos (no caso, o lobo mau). Na série de Dina Goldstein, o inimigo é a própria Chapeuzinho. Com uma cesta carregada de fast foods, sua maior batalha é contra a obesidade.





Cinderela Para essa moça comum virar rainha, teve apenas que calçar um sapatinho de cristal, que parecia ter sido feito sob medida para ela. Aguentar a rotina do castelo, no entanto, mostrou-se bem mais difícil do que se tornar nobre. Para espantá-la, só restou a bebida para a doce Cinderela ...





A Pequena Sereia Ela deixou o fundo do mar para conquistar o amor de um príncipe. Na versão Disney teve um final feliz. No conto original, ela morre. Em Fallen Princesses, a Sereia foi parar dentro de um aquário gigante, onde vive para entreter crianças e adultos.




Rapunzel No mundo moderno, ele tem de se virar sem príncipe e sem cabelo, resultado da quimioterapia para combater um câncer de mama.




Jasmine Após a morte de Aladim numa queda do tapete mágico. Desiludida da vida, Jasmine filia-se ao grupo terrorista Al-Qaeda, onde com a alcunha de Jasmine Bin-Laden será a próxima mulher bomba (texto criado pela autora deste post, Mariana).




Bela Cansada da feiúra de seu marido, Fera, Bela vira uma escrava da beleza a todo custo. Divorcia-se e casa-se com um cirurgião plástico, não consegue conviver com o inevitável envelhecimento e aos 50 anos vence o recorde mundial de aplicação de botox e cirurgias plásticas (texto criado pela autora deste post, Mariana).




Dica do blog:

Quem gostou do tema e quer ver outras imagens das princesas modernas pode entrar diretamente no site da fotógrafa Dina Goldstein o endereço é: http://www.fallenprincesses.com/


Para uma visão histórica sobre os contos infantis, um livro clássico do historiador Robert Darton:

DARTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

Agora se você quer inventar seus próprios finais felizes ou infelizes, basta soltar a criatividade, reinvente e conte para nós outros finais alternativos para as nossas princesas do século XXI.


Mariana.

sábado, 24 de abril de 2010

A Mulher e a Literatura.


Quando ainda era estudante, não uma negrinha mas branquinha, li este texto que me deixou ao mesmo tempo emocionada e chocada. Muitos anos depois voltei a mesma leitura e os sentimentos foram os mesmos. Uma palavra surge na minha mente; exclusão.

Negrinha

Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.

Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.

Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.

Ótima, a dona Inácia.

Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:

— Quem é a peste que está chorando aí?

Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.

— Cale a boca, diabo!

No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...

Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.

— Sentadinha aí, e bico, hein?

Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.

— Braços cruzados, já, diabo!

Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.

Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.

Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste...

O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...

A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”...

O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:

— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...

Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!

Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.

Não sabem! Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.

— “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa.

Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.

— Eu curo ela! — disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias.

— Traga um ovo.

Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:

— Venha cá!

Negrinha aproximou-se.

— Abra a boca!

Negrinha abriu aboca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:

— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste?

E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.

— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que trabalheira me dá!

— A caridade é a mais bela das virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.

— Sim, mas cansa...

— Quem dá aos pobres empresta a Deus.

A boa senhora suspirou resignadamente.

— Inda é o que vale...

Certo dezembro vieram passar as férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.

Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.

Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado — e findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.

Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga”?

Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral —sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.

— Quem é, titia? — perguntou uma das meninas, curiosa.

— Quem há de ser? — disse a tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora.

— Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco.

Chegaram as malas e logo:

— Meus brinquedos! — reclamaram as duas meninas.

Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos.

Que maravilha! Um cavalo de pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que falava “mamã”... que dormia...

Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.

— É feita?... — perguntou, extasiada.

E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão,o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la.

As meninas admiraram-se daquilo.

— Nunca viu boneca?

— Boneca? — repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?

Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.

— Como é boba! — disseram. — E você como se chama?

— Negrinha.

As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca:

— Pegue!

Negrinha olhou para os lados, ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.

Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.

Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos.

Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:

— Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein?

Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga. Compreendeu vagamente e sorriu.

Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha...

Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.

Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!

Assim foi — e essa consciência a matou.

Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.

Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.

Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.

Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.

Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.

Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.

Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.

Mas, imóvel, sem rufar as asas.

Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou...

E tudo se esvaiu em trevas.

Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados...

E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.

— “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”

Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.

— “Como era boa para um cocre!...”

O texto acima foi publicado originalmente em livro do mesmo nome, tendo sido selecionado por Ítalo Moriconi e consta de "Os cem melhores contos brasileiros do século", editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 78.

Imagem do post de Di Calvanti, a linda obra de arte chama-se; “Cabeça de Mulata”.

Mariana


quinta-feira, 8 de abril de 2010


Lembram do velho ditado "por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher"? Pois é, ele foi revisto e atualmente ficou assim: Por trás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher... mandando nele."
Jacqueline!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

CHOCOLATE... EU SÓ QUERO CHOCOLATE!!!

Páscoa chegando... para algumas pessoas é um momento de reflexão, cheio de simbolismos cristãos, mas para alguns é também um momento de comer chocolate.

Há quem considere o chocolate um bom afrodisíaco. Não podemos negar, comer chocolate dá uma experiência muito boa, estimula o hipotálamo, induzindo sensações prazerosas e elevando o nível de serotonina. Tem até aqueles que defendem que um chocolate é melhor que sexo (eu não acho, prefiro unir as duas coisas...). Pode ser branco, preto, com amendoim, castanha, frutas, todos são muito bons! Chocolate vai bem com tudo, se estamos carente, eu bom chocolate ajuda, se estamos namorando um chocolate degustado a dois é tudo de bom também. Engorda sim, eu sei, mas o consumo moderado pode até fazer bem.

Eu pesquesei e encontrei uma dica: Opte pelo chocolate ao leite, com recheio de frutas, com flocos de arroz, com soja, ao invés do chocolate branco, dos recheados com amendoim, castanha de caju e outros tipos muito calóricos. O chocolate meio amargo ainda é mais saudável que os outros tipos. Ele possui maior quantidade de antioxidantes que colaboram com a diminuição dos radicais livres do organismo, do que o chocolate ao leite, pois possui maior quantidade de cacau. O chocolate se for consumido em quantidade moderada, pode trazer benefícios, pois ele possui substâncias antioxidantes, como os flavonóides presentes no cacau. São fontes de energia, liberando glicose para o sangue rapidamente, mas se consumido em excesso, pode não ser saudável, pois fornece muitas calorias e gorduras.

Eu elegi o meu ovo perfeito nessa Páscoa: O Serenata de Amor Jóia (510gr). Ele é envolvido num tecido dourado lindo e ainda vem com um pingente banhado a ouro e prata de coração e pedrinhas de strass. Muito fofo!


Eu já ganhei o meu! E você, qual seu ovo preferido?

Isabele

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Mentiras que os homens (e todos nós) contamos.

Já que hoje é dia 1º de abril...“Mais vale a dor de uma verdade que a alegria de uma mentira.” “Mais vale uma verdade amarga, do que uma doce mentira. “ Cara leitora, quando é melhor ouvir uma verdade ou ficar na fantasia de uma mentira? Se você prefere a segunda opção, então sugiro que não leia este post até o final. O que contarei aqui pode lhe chocar, como dizem na tv “retirem as crianças da sala, as imagens a seguir serão fortes”. No plano dos relacionamentos porque mentimos? Para não magoar o parceiro (a)? Ou para nós safar de um problema? Existe mentirinha boa? Na verdade os homens mentem e como mentem. Ou melhor, não vamos pegar pesado, eles não mentem, omitem. Boba somos nós, mulheres, que não conseguimos perceber as entrelinhas... Então resolvi fazer uma lista do que na verdade eles querem dizer. Aí vai....

Eles dizem: “Não gosto de marcar nada com antecedência, prefiro resolver as coisas na hora, qualquer coisa eu te ligo.”

O que na verdade eles querem dizer:

Depois de tomar muita coragem, você finalmente resolve chamar aquele gato lindo para sair. Aí ele vem com a famosa frase acima. Ele falou isso só para não ser deselegante? Então quer dizer que ele não vai ligar? Pode ser, mas eu tenho uma tese melhor. Ele só vai sair com você depois que esgotar todas as possibilidades um encontro melhor. Posso até imaginar a cena; o gato lindo pega o celular, olha todos os telefones de mulheres, seleciona a que mais o atrai, e vai ligando por eliminação, para isso faz a sua escala de interesse, se nenhuma das opções “pintar”, aí sim ele liga para você. Ás vezes nem é por escala de interesse, é por ordem alfabética mesmo, coitada se o seu nome começar com a letra Z. Não é que ele não goste de marcar nada com antecedência, é que ele vai ver se tem alguma coisa melhor antes de te chamar para sair!

Eles dizem: “Não dá para ficar com você, você é boa demais para mim.”

O que na verdade eles querem dizer:

Na boa, será que ainda existe cara que usa este argumento? Pode acreditar, usa! Está claro que você não é boa demais para ele, não é?! Se fosse assim, porque ele não está contigo? Seria um homem masoquista? Algo do tipo; “não, não, eu só quero mulher safada, gosto de ser corno... “ Não sei, de repente ele pode ser uma pessoa muito abnegada, uma Madre Teresa de Calcutá de calças; “eu prefiro mulheres más, assim eu posso tentar mudar o ser humano”. Não é que você seja boa demais para ele, ele simplesmente arrumou um modo elegante (ou cínico) de te dar um “forra”!

Eles dizem: “O nosso relacionamento não anda bem, acho melhor a gente dar um tempo”.

O que na verdade eles querem dizer:

Dar um tempo?! Isso não seria frase de mulher? Pois é, aí é que está a gravidade da situação. Homem de um modo geral é difícil de terminar um relacionamento, eles preferem trair. Mas quando resolvem terminar... dificilmente terá volta. Quem dá um tempo é mulher, que quase sempre sofre com o fim de um relacionamento por mais fracassado que ele esteja. Dar um tempo é um forma elegante (ou cínica) de te dar um “pé na bunda”!

Eles dizem: “Não, meu bem, você não está gorda, só tem excesso de gostosura!”

O que na verdade eles querem dizer:

Excesso de gostosura?! Essa é muito boa! Tudo bem que o padrão magra esquelética não faz o tipo da maioria dos homens, mas eles estão longe de preferirem as gordinhas. Se você já ouviu esta frase, então cometeu dois erros; primeiro, nunca pergunte isso para um pretendente, segundo, perguntando você está chamando a atenção para um aparente defeito. Os homens nem faziam ideia do que eram as malditas celulites até que nós (mulheres) ensinamos para eles!

Eles dizem: “Beleza não é tão importante, eu gosto de mulher inteligente, com conteúdo.”

O que na verdade eles querem dizer:

Essa é a pior! Quer namorar mulher de conteúdo, então namora um livro! Hipocrisia! A maioria dos homens são seres visuais, reparam sim, em bunda e peito, e não em cérebro! Você acredita que entre duas mulheres, uma feia (pelos padrões) e com Phd. na Sorbonne, e uma outra linda e burra, o cara vai escolher a primeira opção? Gostaria muito que esta frase fosse verdade, até porque posso não ser o supra sumo da inteligência, mas estou longe de ser uma garotinha burrinha e alienada, mas não é! Inteligência é importante sim, mas para nós mesmas e não para atrair o sexo oposto.

Ficou chocada? É muita sinceridade? Pois é, agora imagine se todos só falassem a verdade doa a quem doer? Todos nós (e aí não excluo as mulheres) contamos nossas mentirinhas “santas” de cada dia. Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra! Afinal, o que seria a verdade, o que a gente ouvi ou o que a gente quer ouvir? Filosofias pós modernas a parte, acho que mentiras todos nós podemos contar, cabe a nós não nos iludirmos com elas. Como naquele velho ditado “me encana que eu gosto!” Ou então, como já dizia Cazuza “mentiras sinceras me interessam”.

Ps; Vale lembrar que as frases selecionadas acima nem sempre são regras, no fundo (e bem lá no fundo mesmo) eles podem estar querendo dizer isso mesmo, nunca se sabe. Ah, já ia me esquecendo, o título deste post foi uma livre adaptação de um livro de Luis Fernando Veríssimo “Mentiras que os homens contam.”

Você conhece alguma mentira que já contou ou que já lhe contaram? Conte para nós! Sou tão curiosa....

Mariana

As Mentiras que as Mulheres Adoram Ouvir!


Hoje é dia primeiro de abril, o famoso dia da mentira. É lógico que a mentira tinha que ter um dia só dela, afinal, quem nunca contou uma mentirinha por aí?

Mentira é uma forma de mascarar a realidade para aqueles que não conseguem lidar com ela – ou seja: uma fraqueza de caráter! Mentiras são as melhores opções para as pessoas que não agüentam lidar com a conseqüência dos próprios atos.

Mas por outro lado (tudo tem um bendito outro lado), embora eu odeie mentiras, eu sou obrigada a reconhecer que 99,9999% das pessoas não agüentam a realidade nua a crua o tempo todo e as vezes uma mentirinha é necessária para uma vida sem muitos conflitos. Portanto, nesse 1º de abril, eu pensei em algumas das mentiras (brancas) que nós mulheres adoooooramos ouvir:

“Você emagreceu essa semana”

“Eu não estava olhando para ela, eu só tenho olhos para você”

“Eu nunca pensei em outra mulher, nunca!”

“Eu não olhei para a bunda da sua amiga!”

“Rugas? Que rugas? Eu não vejo ruga alguma!”

“Eu adoro fazer compras no shopping com você – eu só estou meio indisposto hoje”

“É lógico que eu prefiro você ao futebol! Eu só apareço por lá para não desfalcar o time... a rapaziada ia ficar chateada!”

“Aquela moça do trabalho que você achou bonita, pediu demissão. Eu só trabalho com homens agora”

“Eu nunca amei ninguém até te conhecer”

“Você é muito mais bonita que qualquer atriz de Hollywood”

“A melhor transa da minha vida, com certeza foi com você”

“Gorda?!? Claro que não, você está perfeita!”

Homens, tomem nota das mentirinhas acima e eu lhes garanto muita prosperidade e bom humor na sua relação por um bom tempo (mas se restrinjam a essas mentirinhas somente, ok?)!

Jacqueline