segunda-feira, 8 de março de 2010

Lições de um certo dia 8 de março de 1857.



Está certo, o Dia Internacional da Mulher foi muito banalizado. Virou propaganda pura e nós, mulheres, temos que contentarmos com um frio parabéns dos homens ou com uma rosa no trabalho ... Acreditem, de dia de protesto o 8 de março transformou-se em uma festa para os publicitários, criaram mais uma desculpa para vender carros, roupas e até calcinhas! Uma grande loja de departamentos em homenagem a este dia estará vendendo calcinhas por R$ 5,99!!! Antes de saímos em nossa corrida desenfreada e consumista atrás de uma promoção de calcinhas, vamos entender um pouco mais sobre a história e a importância deste dia. Uma dessas ironias da História, quem diria, nós que já queimamos soutien em praça pública, no dia 8 de março de 2010 corremos para comprar calcinhas ....

Antes disso um pouco de aula de História, prometo que serei breve. É controversa a história de que o 8 de março teria se originado do ano de 1857. Em 8 de março de 1857 129 mulheres foram mortas queimadas vivas ao organizarem uma manifestação por melhores condições de trabalho numa indústria têxtil em Nova Iorque. Entretanto, alguns historiadores afirmam que não existem provas que tal massacre tenha ocorrido em 1857 e que ele apagou da memória as verdadeiras manifestações. A principal delas ocorrida em 1911 num incêndio em Nova Iorque, saldo final; a morte de 146 trabalhadoras. Polêmicas à parte, o fato é que em 1977 a Unesco declarou o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher em homenagem a greve ocorrida em 1857. Acontecendo ou não neste ano, o movimento feminista socialista tomou o 8 de março como um dia de luta pela cidadania e igualdade sexual.

E hoje? Quais seriam as lutas que nós mulheres temos ainda que enfrentar? Parece que alcançamos tudo; direito de voto, igualdade no mercado de trabalho (embora em média continuamos a receber menos que os homens), direito sobre nossa vida sexual... Ainda existem outros muros para derrubar? A ditadura de magreza talvez. Luta contra a violência sexual. A falta de identidade de algumas mulheres que persistem em se igualar aos homens no que eles têm de pior... No entanto, talvez uma das principais lutas que tenho a destacar é a ditadura da perfeição. Atualmente as mulheres devem ser boas mães, boas profissionais, boas amantes, inteligentes, independentes, boas cozinheiras (muitas vezes assumindo uma dupla jornada de trabalho), e, além de tudo, sem deixar de ser bonita, sarada, cheirosa, bem tratada, vaidosa, sedutora ... ufa, quantos papéis temos que assumir e haja culpa se não alcançamos este ideal praticamente impossível!

Pensando bem ainda temos muitas lutas para travar. Portanto, que o dia 8 de março não seja somente para comprar calcinhas ou ganhar parabéns meio sem graça dos homens, que seja um dia onde possamos refletir sobre os nossos inúmeros papéis. Vamos lá... escolha sua luta e siga em frente. Ah, já ia me esquecendo, FELIZ DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES!!!



“Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira(…)Vai ser coxo na vida é maldição para homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.” (Adelia Prado).

"Sobre o imenso continente da vida de uma mulher recai a sombra de uma espada. De um lado dessa espada está a convenção, a tradição e a ordem. Onde tudo é correto. Mas , do outro lado dessa espada, se você for louca o suficiente para atravessar a sombra e escolher uma vida que não segue a convenção, tudo é confusão. Nada segue um curso regular." (Virgínia Wolf)

“Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)

“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.” (Simone de Beauvoir)

“Porque nem! Toda feiticeira é corcunda. Nem! Toda brasileira é bunda. Meu peito não é de silicone. Sou mais macho que muito homem.” (Pagu- Rita Lee e Zélia Ducan).

Mariana


9 comentários:

  1. Eu adoro pensar nessas mulheres 'históricas'... será que algum dia elas imaginaram que mulheres teriam posições de comando nas empresas? ou fariam sexo casual com diversos homens ao longo da vida e transariam por prazer? Será que elas imaginaram que várias mulheres escolheriam não casar e não ter filhos?

    É engraçado perceber também que, embora o salto qualitativo tenha sido grande para nós, existe muito das mulheres de 1857 na gente - estamos ainda redefinindo identidade, lutando por coisas que as vezes nem sabemos lidar direito...

    Adorei o post!

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  2. Olá Mariana! Quando eu sai do Rio disse a vc que iria fazer um BLOG né? Pois é eu fiz e ando escrevendo coisas lá, quando vc puder dá uma olhadinha ...
    Beijos

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  3. A verdade é que em vez de lutarem pra sociedade melhorar conjuntamente.. as mulheres lutam pela igualdade co os homens.. acho que tá na hora de mudarem a luta para não vamos ser iguais ou ter direitos iguais aos homens, mas sim... vamos mudar os conceitos mundiais e sociais e revisá-los afim de que todos possam ter uma vida melhor.. algo assim é mais interessante do que conquistar "independência da beleza!"

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  4. Apelo de Um Homem Feminista (Mas nem tanto...)

    Bem, sei que ninguém pediu minha opinião... Mas vou dar assim mesmo.

    Acredito que o maior dilema feminino ultimamente seja a busca por uma identidade tipicamente feminina. Estranho né? Logo vocês que sempre nos deram um banho nesse negócio de identidade: não acredito que sequer tenha passado pela cabeça de uma mulher o medo de não ser feminina, enquanto o maior medo masculino, por sua vez, pasmem, é de não ser suficientemente homem.

    Agora que vocês já sabem nosso “segredo” e o principal motivo (acredito eu) das nossas maiores falhas, não cometam o mesmo erro. Por favor, nunca se igualem a nós. Vocês são misteriosas (mesmo as que falam pelos cotovelos), introspectivas (a um nível que homem algum jamais vai alcançar), são complexas (do ponto de vista de seres simplórios como nós) e (muito) contraditórias.

    Por mais que poucos admitam, nós homens vemos em vocês algo quase divino e isso nos dá medo. As mulheres têm super poderes, que conferem a elas esse aspecto de deidades semi-intocáveis. Vocês nascem sabendo amar incondicionalmente e aprendem a amar algo como parte de vocês! Nosso negócio é carregar peso e abrir potes, tudo isso é muito esquisito pra nós. Ainda estamos na idade da pedra.

    Desculpem-me, acho que corro o risco de ser apedrejado e mal interpretado, mas vocês (mulheres) nunca serão iguais a nós (homens)...

    Ainda bem!

    Esse sentimento de busca por um pseudo-igualitarismo liberal (pseudo-igualitarismo ainda se escreve assim mesmo, com hífem?) tem causado muitos mal entendidos por aí, principalmente quando se tenta equacionar essa relação meio doida entre liberdade e igualdade.

    Sei que falo o dialeto marciano, mas liberdade não é igualdade, ponto final. As mulheres devem manter sua busca focada na liberdade: liberdade social, liberdade de pensamento, liberdade afetiva... Quase toda igualdade de que vocês precisavam já foi alcançada com a fumaça dos sutiãs, a duras penas, é preciso dizer, mas as conquistas estão aí.

    Nos assustamos com essa nova mulher “perigosamente” livre, “perigosamente” sexualizada e “perigosamente” interessada em si mesma. Nossos pontos de referência caíram por terra. Descobrimos que somos dependentes e não o contrário. Diante disso, vocês se impõem, através de um comportamento revanchista, mas tipicamente masculino ou se retraem esperando ter mais sucesso que Lênin nesse negócio de dar passos pra trás e pra frente.

    Por favor, sintam-se livres para manter a feminilidade enquanto dividem espaço conosco. Por favor, não busquem a igualdade masculina e a feminilidade caricata das revistas de moda. Não escondam o melhor de si mesmas atrás de futilidades que agradam apenas aos sentidos masculinos e de insensibilidades que agradam apenas ao radicalismo feminista, sejam livres para decidir por si mesmas o que é ser uma mulher nesse século.

    Simplesmente sejam Mulheres, livres para ser simplesmente mulheres e, como que por um milagre, vão alcançar exatamente aquilo que buscam, seja lá o que for...

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  5. Ah! Já ia esquecendo... Eu poderia contar aquela história já batida que "todos os dias são O dia da mulher", mas acho que isso só atrairia mais pedras, mais pelo cinismo da declaração do que pela declaração "per se"...

    Portanto,

    Parabéns atrasado a todas!!! =P

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  6. Caro Rodrigo:

    Se alguém tacar pedra em você, eu e nós (as autoras do blog) te protegemos! Muito interessante o seu comentário. Acho também que falta buscar uma identidade depois de várias conquistas. A grande questão é; qual seria a identidade da mulher moderna? Temos tantos papeis a assumir que escolher um ás vezes é uma missão impossível! Penso que as mulheres não precisam se masculinizar para ocupar seus espaços, como eu disse, não precisamos nos igualar aos homens no que eles têm de pior, banalização do sexo oposto é um deles. Eu acho que acima de tudo temos que nos manter mulheres, com todas as qualidades e defeitos, sem esquecer que antes do sexo (feminino ou masculino) somos únicos, somos seres humanos.

    Espero que passe sempre por aqui deixando um comentário inteligente ou simplesmente engraçado. Seja bem-vindo!!!

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  7. Obrigado Mariana. Achei muito interessante a proposta do blog, vou passar por aqui mais vezes sim. =)

    Concordo com você, mas não acho que escolher um papel seja tão difícil assim...

    A esse respeito, me diz, qual é a identidade do homem moderno?

    Viu só? Impossível generalizar...

    Mas te digo que essa identidade existe, eu como homem percebo claramente. Mas ela não é de forma alguma genérica, isso posso garantir.

    Generalizações só servem pra gente descobrir o quão volátil são as expresoes faciais humanas, que podem passar de um "por-cima-da-carne-seca" pra um "meu-deus-não-acredito-que-disse-isso" em menos de dois segundos...

    Acho que essa tal identidade feminina já está bem aí plantada dentro de vocês, desde antes do 8 de março ser inventado, só precisam encontrá-la e adaptá-la às suas próprias individualidades.

    Acho que a mulher desse século não precisa ser reinventada, ela só precisa se redefinir com base naquilo que conquistou, conquistas essas, que do ponto de vista histórico aconteceram rapidamente.

    Busqem a liberdade de seguir os papéis que quiserem e os rótulos vão sumir com o tempo, mas feminilidade, essa vai continuar lá.

    No fim desse processo cada uma vai saber exatamente o que é ser uma mulher nesse século, sem precisar se valer de parâmetros de comparação com a "antiga" mulher e, principalmente, sem precisar abdicar de sonhos ou individualidades.

    Ah, e desde que role um respeito eu aceito todas as pedras numa boa, rsrsrs, afinal, se te jogam pedras, construa alguma coisa com elas... =P

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  8. Rodrigo, adorei seu post, você permitiria que eu o publicasse em meu blog nesse dia???? Sem pedras, prometo!!! rssss segue o link http://mfbsilva.blogspot.com/

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  9. Adorei o post muito bem elaborado Mariana. Parabéns!

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