quinta-feira, 29 de abril de 2010

Reinventando e atualizando os finais felizes dos contos de fadas.

Quando era menina e tive o primeiro contato com os livros, lembro-me do meu avô dando a coleção de todos os disquinhos (o jurássico vinil) das histórias da Disney, tenho eles até hoje na minha estante. Ainda pequena nunca me conformava com a frase final dos famosos contos de fadas das princesas da Disney; “e viveram felizes para sempre...” Como assim, felizes para sempre?! O que aconteceu depois?! Nenhum conflito?! Nenhuma tristeza?! Existe um final feliz eterno?!

Lendo esta semana a revista Marie Claire, a reportagem de Ludmila Vilar com as fotos da canadense Dina Goldstein lançou uma nova luz sobre o assunto.


Era Uma Vez...


Lindas princesas que vieram para o século 21. Encontraram a fotógrafa Dina Goldstein, que deu a elas destinos bem diferentes daqueles que estão nos livros.

Por Ludmila Vilar.

Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve e a Pequena Sereia encontraram um lindo príncipe e um castelo dos sonhos para morar num reino distante – e foram felizes para sempre. Pelo menos é o que está lá escrito nas histórias infantis. Intrigada com o que seria um desfecho mais contemporâneo para esses contos, a fotógrafa canadense Dina Goldstein resolver trazer as princesas para os dias de hoje e criou um outro destino para elas, com imagens bem menos cor-de-rosa do que aquelas que habitam o imaginário infantil. O resultado está na série Fallen Princesses (do inglês, Princesas Arruinadas), exposta no fim do ano passado na galeria Buschlen Mowatt em Vancouver, no Canadá, e agora nas páginas de Marie Claire.


Mais do que questionar o tradicional jargão “felizes para sempre”, Dina refletiu nesse trabalho um período difícil da sua própria vida. No ano passado, ela enfrentou problemas de fertilidade para conseguir a segunda gravidez, aos 38 anos, e acompanhava o sofrimento da mãe que lutava contra um câncer de mama. Nessa mesma época, sua filha de 4 anos estava encantada com os filmes da Disney e adorava se fantasiar de princesa – típico da fase. “Eu via os filmes e, com esses dois problemas acontecendo ao mesmo tempo, comecei a imaginar como as princesas lidariam com os complexos desafios da vida real, como doenças, vícios ou questões ligadas à autoimagem”, diz. Também incomodava o fato de os desenhos da Disney terem sempre um enredo com um começo triste, uma vilã dominadora e um previsível final feliz. “Não importa qual seja o início da história, o príncipe chega para salvar a linda garota e transformá-la em princesa”, afirma. Ela inventou então cenários contemporâneos para as personagens.


Em Fallen Princesses, a doce Branca de Neve tem agora vários filhos e um marido ausente, mais vidrado na cervejinha e nos esportes da TV do que na própria família. Cinderela virou alcoólatra, o endereço da Pequena Sereia é um aquário, Rapunzel esta perdendo os cabelos na quimioterapia e a Bela Adormecida foi abandonada num asilo. “As fotos de Dina brincam com coisas sérias, que tiram o chão de nossos castelos mal-construídos. É como se nos lembrassem que temos que nos manter atentas para reinventamos nossos reinados, pois não há final feliz predestinado”, afirma a educadora, psicanalista infantil e estudiosa dos contos de fadas Loraine Schuch, de Porto Alegre. São imagens fortes, provocadoras, ao mesmo tempo, engraçadas, que nos fazem perguntar: afinal, o que sobrou da fantasia dos contos de fadas na vida moderna? “Hoje, nossos momentos de sonhos se resumem a datas como casamento, festas de aniversário, dia das mães. O problema é que elas duram pouco e a vida logo volta ao normal”, diz Dina.


Os contos de fadas são um elemento poderoso da cultura porque trazem informações sobre nós mesmas. Lá estão espalhados fragmentos da realidade, histórias que contêm dramas e personagens com correspondente no nosso cotidiano. “Há rainhas e princesas por toda a parte. Elas aparecem nas figuras de várias mulheres”, diz a psicanalista Loraine. Ela se refere ao nosso lado feminino mais edificante: aquele que, como nas brincadeiras, quer que tudo dê certo, e não poupa esforços para isso. Existem também os príncipes da vida real que, no dias de hoje, precisam tanto das mocinhas para se sentir nobres quanto elas deles para se sentirem princesas. Há ainda as versões modernas de madrastas – vilãs que, além do câncer, dos casamentos fracassados e de outros dramas retratados por Dina, aparecem na pele de figuras femininas autoritárias e intransigentes, como, por exemplo, a personagem central de O Diabo Veste Prada. A vida real tem também seus finais felizes, Dina Goldstein teve o direito ao seu, quando há nove meses deu à luz sua segunda filha.


Branca de Neve No conto de fadas ela desperta do sono da maçã envenenada direto para os braços do príncipe, com quem vive feliz para sempre. Nas lentes de Dina, a realidade é dura: ausente e entediado, o príncipe deixa todas as tarefas da casa para a princesa.




A Bela Adormecida Enfeitiçada para dormir por cem anos, a princesa só poderá ser salva se receber o beijo do um príncipe. O problema é que ele nunca chega. Alheia a tudo que se passou, a Bela Adormecida está em sono profundo até hoje num asilo, com a cara congelada no tempo.






Chapeuzinho Vermelho No conto ela se dá mal por desobedecer a mãe. Ao atravessar a floresta, Chapeuzinho pega o caminho mais curto – e perigoso – e ainda conversa com estranhos (no caso, o lobo mau). Na série de Dina Goldstein, o inimigo é a própria Chapeuzinho. Com uma cesta carregada de fast foods, sua maior batalha é contra a obesidade.





Cinderela Para essa moça comum virar rainha, teve apenas que calçar um sapatinho de cristal, que parecia ter sido feito sob medida para ela. Aguentar a rotina do castelo, no entanto, mostrou-se bem mais difícil do que se tornar nobre. Para espantá-la, só restou a bebida para a doce Cinderela ...





A Pequena Sereia Ela deixou o fundo do mar para conquistar o amor de um príncipe. Na versão Disney teve um final feliz. No conto original, ela morre. Em Fallen Princesses, a Sereia foi parar dentro de um aquário gigante, onde vive para entreter crianças e adultos.




Rapunzel No mundo moderno, ele tem de se virar sem príncipe e sem cabelo, resultado da quimioterapia para combater um câncer de mama.




Jasmine Após a morte de Aladim numa queda do tapete mágico. Desiludida da vida, Jasmine filia-se ao grupo terrorista Al-Qaeda, onde com a alcunha de Jasmine Bin-Laden será a próxima mulher bomba (texto criado pela autora deste post, Mariana).




Bela Cansada da feiúra de seu marido, Fera, Bela vira uma escrava da beleza a todo custo. Divorcia-se e casa-se com um cirurgião plástico, não consegue conviver com o inevitável envelhecimento e aos 50 anos vence o recorde mundial de aplicação de botox e cirurgias plásticas (texto criado pela autora deste post, Mariana).




Dica do blog:

Quem gostou do tema e quer ver outras imagens das princesas modernas pode entrar diretamente no site da fotógrafa Dina Goldstein o endereço é: http://www.fallenprincesses.com/


Para uma visão histórica sobre os contos infantis, um livro clássico do historiador Robert Darton:

DARTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

Agora se você quer inventar seus próprios finais felizes ou infelizes, basta soltar a criatividade, reinvente e conte para nós outros finais alternativos para as nossas princesas do século XXI.


Mariana.

10 comentários:

  1. Eu adorei o texto, no entanto, eu tenho uma crítica:

    todos os finais alternativos e trágicos apresentados pela fotógrafa, tirando o da Rapunzel e o da Bela Adormecida, foram ruins porque as princesas deixaram.

    Branca de Neve, por exemplo, ao perceber que o príncipe era um babaca egoísta, poderia ter parado de colocar filho no mundo e ter ido a luta - ficou cuidadando de casa, marido e filho porque quis...

    C. Vermelho poderia procurar um psicólogo, para perceber o que a leva para sua compulsão alimentar - provavelmente, ela está suprindo alguma falta emocional com comida...

    O mal dessas pricesas, e das princesas contemporâneas também, é esperar que seus príncipes façam todo trabalho para mantê-las seguras e alegres. Pô, além disso, pobre príncipe também, né? Ninguém aguenta uma princesinha fardo o tempo todo: "me salve e me faça feliz!"

    Sinceramente, existe uma parte de mim (meio escondida, as vezes, eu confesso), que acredita cegamente no 'e viveram felizes para sempre', mas o meu conceito de felicidade é de algo que é conquistado com o tempo, com esforço e, principalmente, com autonomia.

    Lanço meu apelo: princesas, façam o favor de assumirem o reinado da própria vida!
    Se querem algum reinado, construam! Ou virem alcóolatras, obesas, infelizes...

    ResponderExcluir
  2. Concordo com você, amiga. Acho que o "viveram felizes para sempre" não depende do outro, mas de nós mesmas. Talvez o grande segredo está em buscar a felicidade de forma independente, a felicidade vem de dentro para fora e não depende dos outros. Mas com é difícil...
    Mesmo assim é interessante pensar e criar outros finais alternativos.

    ResponderExcluir
  3. Eu tenho um final alternativo para a Cinderela:

    Cansada da vida sem graça no castelo, mas cheia de dinheiro, Cinderela vira uma compradora compulsiva de sapatos. Atualmente concorre com a viúva do ex-político corrupto filipino Imelda Marcos, a princesa já ultrapassou a marca de 3000 pares de sapato.

    ResponderExcluir
  4. Contos de fadas... sempre gostei deles quando criança. Minha princesa preferida (até hoje... tenho até o DVD!:D) sempre foi a Ariel, a pequena sereia. Acredito que o conflito de Ariel deveria ser outro: lidar com as diferenças de vida, gostos, personalidade, dela e do príncipe. Quando duas pessoas se casam terão que enfrentar isso, um convívio diário com uma pessoa que teve uma criação diferente, tem costumes e manias diversas. E essas diferenças são tantas que pode em casos extremos levar a separação. Mas, o que sempre me encantou na história da Ariel (e me encanta até hoje...rs) é o fato de que um casal tão incomum, de lugares e vidas completamente diferentes, conseguir superar as diferenças (a princípio...) e se unir. Ambos abdicaram de parte de suas tradições para tentarem ser felizes. Ariel deveria casar com um homem do mar e o príncipe com alguém nobre, mas o amor foi mais forte...
    Eu sei que isso tudo é bem romântico, mas não é nada impossível na realidade, ter um relacionamento é um pouco disso, aceitar as diferenças e aprender a conviver com elas, procurando sempre ver o outro como ele é e não como gostaríamos que ele fosse.
    Não querendo isentar os homens, mas em geral a idealização exagerada costuma ser mais comum no sexo feminino, talvez nosso excesso de "contos de fada" na infância ajude um pouco.
    Enfim, se eu tiver uma filha, vou contar a ela essas histórias, mas sempre procurando ressaltar as lições positivas que podemos tirar delas (como na história da Ariel a superação das diferenças e a compreensão do outro).
    O final feliz pleno não existe, mas existe uma paz interna que pode ser diária, e existe também a busca por ele que deve ser constante e passar muito mais por nós do que depender necessariamente de um príncipe!

    ResponderExcluir
  5. Ah, Mari, parabéns pelo post, mto legal!

    ResponderExcluir
  6. adorei esse poste. sou muito fã dos contos originais e claro dos da disney. Se interessar a vocês existe um outro modelo de conto criado pelos irmãos grim é ótimo também, e alguns até chocante.srr
    beijao para as três estão de parabéns pelo blog. só falta uma divulgação melhor.

    ResponderExcluir
  7. Adorei isso!!!! Li essa matéria hj, peguei uma Revista Marie Claire totalmente por acaso, amei, e ri muito. É cômico e trágico, né? Visto que o conto de fadas não existe, principalmente quando se trata de homens. Abr.: Thaís.

    ResponderExcluir
  8. aDOREI, muito divertido e interessante o toque do humor negro!!!

    ResponderExcluir
  9. adoro a bella minha preferida princesa, mas eu quero saber se elas todas sao do capeta

    ResponderExcluir